Implementação do Projeto

Por se tratar de um projeto bastante complexo, que envolve um grande número de parceiros e colaboradores, decidiu-se pela implementação dos vários componentes de forma modular, de tal modo a permitir que resultados, ainda que parciais, porém de grande utilidade para a comunidade científica, pudessem ser divulgados rapidamente.

Assim, no dia 22 de março de 2006, este site foi disponibilizado para a comunidade científica com a expectativa de que seja um instrumento importante para seu trabalho. Esperamos ainda que, com o belo design de Luisa Paraguai Donati, seja também de grande interesse para a comunidade escolar e público leigo.

Acredita-se que este projeto, por sua natureza dinâmica e colaborativa, jamais tenha uma data de finalização, mas seja a semente para um sistema dinâmico e constantemente atualizado sobre a flora brasileira.

Módulo 1: Digitalização das pranchas e sua disseminação na internet

O primeiro módulo previa a digitalização das 3811 pranchas existentes nas 40 partes da obra. Essa etapa foi concluída com sucesso. As pranchas foram digitalizadas pelo Jardim Botânico de Missouri, que possui uma cópia de boa qualidade da obra. Os desenhos da obra original foram fotografados, produzindo imagens com resolução de 300x300 pixels por polegada, em formato TIF, que geraram arquivos de aproximadamente 90 Mbytes cada.

As imagens foram então transferidas ao CRIA, que fez o tratamento final de cada uma delas. Esse tratamento consistiu de acerto de brilho e contraste, e corte. Além disso, cada imagem foi "picada" em pequenos ladrilhos para serem usadas pelo visualizador.

Para a disponibilização das imagens na internet, utiliza-se um visualizador Flash que dinamicamente recupera pequenas partes da imagem sendo observada, de forma a minimizar o tráfego na rede. Essa técnica permite que detalhes da imagem original sejam observados, mesmo por usuários com acesso limitado à rede.

Para que isso seja possível, cada imagem é cortada em centenas de pequenas partes que, quando coladas, formam a imagem original. O sistema utiliza algorítmos especiais para identificar as partes necessárias a fim de produzir a visualização correta para o usuário.

Para a organização das imagens, foi implementado um banco de dados hierárquico, que armazena os metadados de cada volume, parte, fascículo e páginas (pranchas ou textos), como data e local de publicação, gráfica onde foi impresso, artista etc., além de hierarquia própria da obra. Uma interface web foi desenvolvida para alimentar e gerenciar esse banco de dados.

O projeto inicial previa apenas a digitalização das pranchas. O Jardim Botânico de Missouri decidiu, porém, que, devido à grande importância da obra, todas as páginas de textos deveriam também ser digitalizadas. O sistema desenvolvido já prevê a inclusão dessas imagens, sendo que um pequeno número delas já faz parte do sistema, a título de teste. Em breve acreditamos poder inserir todas as páginas de texto.

Módulo 2: Nomes Científicos citados na obra

Inserção dos nomes dos táxons no sistema

Banco de dados

Um banco de dados hierárquico foi implementado para armazenar os nomes citados na obra, além de autores, e referências às pranchas e textos. Uma interface web foi desenvolvida especialmente para permitir a alimentação dos dados. O banco de dados utiliza o PostgreSQL como gerenciador e a interface foi escrita em Perl e Javascript. Permite o acesso simultâneo de vários usuários e disponibiliza funções básicas de inserção, alteração, deleção e movimentação de ramos na árvore taxonômica.

Procedimentos adotados

Como a obra é bastante antiga, as categorias taxonômicas e as grafias dos nomes dos táxons não seguem as regras nomenclaturais adotadas atualmente. Como um dos objetivos do projeto é justamente a atualização dos dados da Flora brasiliensis, realizada por especialistas dos diferentes grupos em uma etapa posterior, optou-se, nesta etapa, por manter as grafias e as categorias taxonômicas como estavam originalmente na obra, com algumas exceções, listadas abaixo.

Categorias taxonômicas

As categorias "ordo" e "subordo" foram tratadas como família e subfamília, respectivamente, seguindo as recomendações dos artigos 18.2 e 19.2 do International Code of Botanical Nomenclature, ICBN. As terminações dos nomes não foram corrigidas. As categorias não especificadas na obra foram tratadas como o nível hierárquico imediato abaixo da categoria em questão (ex. seção abaixo de gênero). Categorias sem nomes foram referenciadas com as letras ou os números que as identificavam na obra. Para as tribos ou seções citadas apenas nas chaves de identificação foram inseridos os números da página em que constava o nome e das páginas em que se encontravam os táxons correspondentes. Espécies listadas em apêndices, listas de espécies "pouco conhecidas" (species non satis notae) ou "de posição incerta" (species incertae sedis) foram reunidas em categorias fictícias ou mantidas na raiz da categoria superior, com o comentário em "notas".

Autores

As grafias dos nomes de autores foram uniformizadas seguindo a padronização proposta por Brummitt e Powell (1992), no Authors of Plant Names. Nos casos de nomes ambíguos, em que mais de um autor poderia corresponder a determinada abreviatura, buscou-se a informação em fontes diversas, como aquelas disponíveis no International Plant Name Index, IPNI e o W3tropicos. Como essas fontes não estão sempre corretas, buscou-se utilizá-las somente quando coincidentes e inequívocas. Quando os autores eram inconsistentes em várias fontes e o acesso à informação original não era possível, a grafia foi mantida como apresentada originalmente na obra. Quando o nome do autor não estava associado ao nome do táxon na Flora brasiliensis essas fontes foram novamente consultadas para confirmar se o autor era o responsável pelo tratamento taxonômico daquele grupo, caso bastante freqüente, e este foi acrescido ao nome do táxon. No caso de as fontes apontarem para autor distinto o nome do táxon foi mantido sem o nome do autor. Quando o autor da espécie considerada era anterior a Lineu (1753) - ex. Tournefort (1656-1708); Plumier (1646-1704) - a autoria do táxon era creditada a Lineu (L.) ou ao autor pertinente àquele grupo (ver artigo 13 do ICBN).

Nomes dos táxons

A correção da grafia dos nomes dos táxons foi realizada somente nos casos em havia um erro claro de tipografia. No caso de espécies com epítetos duplos o hífen foi acrescido para unir os dois nomes. Não foram acrescidos os nomes das espécies excluídas nos tratamentos dos gêneros.

Módulo 3: Atualização dos Nomes Científicos citados na obra

Novas técnicas e novos conceitos científicos alteram a nomenclatura utilizada. Se considerarmos que a obra foi publicada em fascículos durante mais de 60 anos, pode-se facilmente imaginar as grandes mudanças que ocorreram no período, e nos 100 anos subseqüentes.

Assim, é extremamente importante atualizar os nomes citados na obra para que a comunidade científica de hoje possa acessar os dados históricos sem precisar saber toda a evolução taxonômica de cada espécie.

Esse processo, entretanto, é bastante complexo, uma vez que exige um conhecimento profundo de cada família de plantas e sua história, as mudanças de nomes por que passou e a nova classificação pela qual hoje é conhecida. A atualização dos nomes antigos, portanto, somente poderá ser feita através de um processo colaborativo que envolva especialistas nacionais e internacionais, nas diferentes famílias de plantas.

O Departamento de Botânica do Instituto de Biologia da Unicamp, através de um projeto financiado pela Fapesp, é responsável pela coordenação desse processo de atualização dos nomes. Uma comissão está sendo formada para gerenciar o processo e decidir quais especialistas deverão ser convidados para participarem do processo.

O CRIA tem como responsabilidade a implementação de um banco de dados, associado a uma interface web, que permita o acesso controlado de todos os envolvidos nesse processo ao sistema, de forma a tornar essa atualização dinâmica, permanente e colaborativa.

Uma primeira versão do sistema já está implementada e em fase final de testes.

Módulo 4: Informações complementares

Nas próximas fases do projeto pretende-se implementar outros módulos que agreguem informações complementares ao sistema, por exemplo, imagens das exsicatas das plantas, imagens das plantas vivas, referências a outros sistemas com informações adicionais etc.