Prancha XLIV
Comentário de Heitor de Assis Junior
Cultivo do café em uma propriedade entre a cidade de Magé e as Montanhas da Serra dos Órgãos. Litografia, 1855.
O modelo para a prancha XLIV, localizado num exemplar de 1836 foi litografado por August Brandmayer segundo
desenho natural executado por Johann Steinmann, dá uma boa idéia da constituição das plantações de café na
Serra dos Órgãos, no caminho para Teresópolis.
Embora esta prancha não apresente descrição na Flora Brasiliensis, Martius em sua obra Viagem pelo Brasil
localiza essa região num vale do Rio Paraíba. As casas espalhadas e uma capela são limitadas por cercas espessas
que levam a uma planície verde circundada por lavouras, campos e jardins iluminadas pelo sol da manhã.
O fundo é emoldurado pela Serra dos Órgãos que, com sua vegetação ainda envolta por sombras do arvoredo
que cobre as encostas montanhosas, chama a atenção sobre a diversidade da iluminação, dos tons e
do azulado do céu. O local é a fazenda da mandioca do Sr. Langsdorff onde Thomas Ender se restabeleceu
da doença contraída durante a viagem a São Paulo, provavelmente malária. O nome da localidade se
deve à excelente qualidade da mandioca ali produzida e servia de local de parada pra tropas, cuja
infra-estrutura contava com um botequim de cachaça, um moinho de fubá e milho e uma casa pequena do dono.
É interessante observar a área desmatada à direita da imagem e a preocupação de Martius quanto aos agravos
provocados ao meio ambiente pelas freqüentes queimadas características do manejo brasileiro quando do desmatamento
da vegetação natural para plantio; refere-se ainda, à pobreza do solo que, após algumas colheitas,
era abandonado e substituído pela capoeira caracterizada pela ausência das "grandes árvores originais de lento
crescimento". Na litografia, plantas pouco exigentes como cactos, samambaias e árvores com raízes expostas,
demonstram um solo arenoso e esgotado pelo cultivo impróprio e a prática de queimadas mais de uma vez
criticadas nas descrições das pranchas do primeiro volume da Flora brasiliensis por Martius.
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