Prancha VIII
Comentário de Heitor de Assis Junior

A floresta primitiva que sombreia a estrada entre Jacareí e a aldeia da Escada na Província de São Paulo.

Na descrição, Martius refere-se à quantidade menor de húmus encontrada nestas florestas tropicais, quando comparadas àquelas das florestas temperadas européias, afirmando que sua disponibilidade é muito menor e que seria levado pelas chuvas tropicais dos montes para os rios e que outra parte, em virtude do calor muito forte, seria rapidamente dissolvida.

É interessante observar os detalhes da vegetação formando uma verdadeira bordadura na região erodida do solo e a presença do viajante que já vai desaparecer na curva da trilha da floresta. Martius declara ter se sentido comovido com o aspecto rude, triste e inóspito. Do mesmo modo lhe pareceu ameaçador e feroz os semblantes dos habitantes constituído pelos "caryôs" ou "guarûs". Martius lamenta o fato desses indígenas se encontrarem privados de sua nação, dizimados pela varíola, pelas armas dos colonos cristãos e, apenas alguns sobreviventes dispersos e deformados convivendo entre os civilizados.

Martius afirma que a árvore ao centro é a Guatteria ferruginea, mais à direita a Lecythis de casca escura. Na frente, acima do homem, a folhagem fechada de Pomatium oppositifolium e mais para o alto a Moldenhawera floribunda. A palmeira de folhas estreitas é a Bactris setosa. O compacto arbusto Solena bullosa Vell. É entremeado pelas enormes folhas multífidas do Anthurium digitatum. Do lado esquerdo, troncos delgados da Mayna brasiliensis e da Talauma ovata. Na parte anterior, entre outras, o Ingá communis.


Modelo: Thomas Ender. Estrada entre Jacareí e Aldeia da Escada, c. 1817; lápis e sépia, 200 x 308 mm. Gabinete de Gravuras da Academia de Belas-Artes, Viena1.


1 WAGNER & BANDEIRA, 2000:850,v. 3.